9 de julho de 2010

PF para PJ - Transição complicada

Por Rogerio Jovaneli da INFO


SÃO PAULO - O PJ ganha mais, paga menos imposto, mas não recebe os benefícios de quem trabalha como CLT, tais como: FGTS, férias, 13º, entre outros.

Mesmo assim, muita gente topa o desafio. Tudo em nome da liberdade de poder fazer o seu horário e sair da rotina de funcionário com carteira assinada. Em regra, a maioria muda para PJ por se cansar da vida de empregado CLT.

Mas, afinal, será que os profissionais estão preparados para essa mudança?

Para o consultor Maurício Davino, proprietário da empresa Davino Consultoria e Treinamento, nem todos os profissionais têm a consciência do que é, na prática, trabalhar como pessoa jurídica em tecnologia.

“Trabalhar por conta própria é um desafio. No meu caso, foi muito complicado no começo. Muita gente não imagina que quando trabalhamos por conta própria, trabalhamos muito mais do que trabalharíamos na forma CLT. Chega a haver ocasiões em que não há horários específicos. Toda hora é hora de trabalho”, afirma.

“O trabalho [como PJ] deve ser encarado com seriedade e deve-se cumprir uma agenda rígida”, completa.

Já para Álvaro Eduardo Gomes, dono da Abu Framework, empresa que oferece suporte em TI (e emprega vários PJs), tudo depende do perfil profissional de cada um.

“A principal diferença esta na disposição e no plano de vida de cada um. Algumas pessoas têm mais facilidade em lidar com um ambiente mais regrado e conseguem se sentir motivadas e produtivas, trabalhando longos períodos em uma empresa. Outras se sentem mais produtivas e motivadas num ambiente menos regrado, onde possa fazer seus horários e buscar seus desafios”, analisa.

Para ele, a mudança de CLT para PJ é um desafio equivalente à mudança de emprego. “Os profissionais que desejam encarar uma ‘carreira solo’ devem estar dispostos a encarar momentos de turbulência”.

“A primeira tarefa [para quem inicia como PJ] é definir o seu trabalho. Ou seja, não saia por aí dizendo que ‘faz tudo’. Especialize-se e tenha uma rede de contatos ativa”, aconselha Gomes.

Sobre os gastos do PJ, o consultor Maurício Davino faz questão de salientar as despesas do profissional autônomo são bem diferentes daquelas como contratado com carteira. “Há diversos tributos que precisam ser recolhidos. Alguns são mensais, outros trimestrais. Mensalmente, tem o PIS/ Confis e, é claro, o ISS da prefeitura. Trimestralmente, há o imposto de renda e o CSLL. Por mês, o total de tributos soma 11% sobre o faturamento”.

“Com o tempo, percebemos a necessidade de termos o auxílio de um escritório de contabilidade. A legislação brasileira, além de muito complexa, muda todo o tempo, por isso é preciso ter um apoio consistente para não ficarmos a mercê do fisco. Outro problema que encontramos é que, atualmente, muitas empresas não aceitam notas fiscais emitidas por firmas individuais e tributadas pelo Simples”, alerta.


Quanto cobrar como PJ

Para não correr o risco de ficar no vermelho, especialistas recomendam que o PJ busque um rendimento mensal em torno de 20% e 30% a mais do que recebia como CLT. Mas o valor a ser cobrado varia muito, sobretudo para profissionais como pouca experiência que, em regra, tem menos poder de escolha, conforme explica o empregador de PJs da Abu Framework.

“O principal critério para estabelecer o valor hora para um PJ é a experiência. Já contratamos programadores pleno ganhando o mesmo que lideres de projetos e também já contratamos programadores certificados que ganhavam como estagiários. A política do mercado de trabalho para PJ é baseado em resultados”, opina.

Com vasta experiência no mercado, o consultor Maurício Davino chama atenção para um outro aspecto igualmente importante: os calotes das empresas. “Há maus pagadores no mercado”.

Segundo ele, uma forma de não entrar pelo cano é verificar a idoneidade da empresa para a qual estamos prestando serviços. “Além disso, é importante tentar formalizar as propostas de serviços, seja por meio de contrato formal ou, na falta dele, formalizando os compromissos por correio eletrônico”.

“Ao entregar a nota fiscal de prestação de serviços, procure obter o ‘aceite’ de recebimento. Isso é importante caso haja a necessidade de protesto do título em cartório”, recomenda Davino.


Qualificação

Quando o profissional migra para a pessoa jurídica, uma preocupação comum é sobre o que o mercado está pedindo, em termos de qualificação. Os PJs de primeira viagem também querem saber quais são as áreas em alta, algo muito subjetivo para o proprietário da Abu Framework.

“Dentro de TI, não há uma área mais promissora que a outra. Existe um momento mais promissor que o outro. No momento, considero a computação em nuvem, que tende a mudar o conceito de TI nas empresas e irá gerar demandas em dois ou três anos. Vale a pena conhecer e se especializar nesses serviços a longo prazo”, avalia Álvaro Gomes.

O consultor Maurício Davino, por sua vez, chama atenção para outros segmentos que, segundo ele, são bastante importantes na atualidade.

“Entre as diversas áreas que atualmente podem ser consideradas como ‘minas de ouro’, citaria as tecnologias do SharePoint – Desenvolvimento e Web Design, ERP – SAP, TOTUS, Dynamics da Microsoft e CRM. Faltam profissionais nessas áreas. Aquele que se tornar especialista, com certeza terá agenda muito cobiçada pelo mercado e não ficará parado”, indica Davino.

E quanto às famosas certificações? Afinal, quais delas são realmente importantes e merecem toda a atenção do mundo e o que é dispensável? “Um assunto bastante complicado”, define Álvaro Gomes. Ele explica que, diferentemente dos anos 80 e 90, hoje temos dezenas plataformas operacionais e centenas de soluções para um mesmo problema, e que as empresas estão mais dispostas a aceitarem as soluções alternativas.

“Muitas vezes, uma certificação pode fechar algumas portas por torná-lo tendencioso a uma única tecnologia. Por outro lado, você pode se certificar numa tecnologia para obter todo o conhecimento necessário para saber buscar as soluções alternativas”.


Inglês fluente

Não apenas em TI, mas em muitas outras profissões, dominar uma segunda língua, principalmente o inglês, pode dar um bom impulso à carreira.

Fala-se muito em inglês fluente como requisito obrigatório para toda e qualquer seleção, mas, de acordo Álvaro Gomes, há espaço para gente com tudo quanto é nível de inglês.

“Falar uma segunda língua é importante. Especificamente em TI, o inglês ajuda na utilização de ferramentas, mas, no caso das empresas brasileiras com atuação apenas no mercado nacional, não sinto que falar inglês fluente seja imprescindível. Esta regra se aplica mais em empresas multinacionais”, diz o empresário.

“Um candidato a uma vaga de emprego nunca deve deixar de participar de um processo de seleção por achar que o seu nível de inglês não é o suficiente, mas nunca deve mentir sobre ele. Seja sempre sincero com todas as oportunidades que as suas chances sempre aumentam.”

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